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Jardim Montanhês

Lembranças de Osmar Alves de Andrade, ex-integrante do GAV

"O Grupo de Jovens Ação e Vida surgiu a partir do momento que Terezinha Renna se mudou para o Jardim Montanhês. No início, as reuniões eram feitas nas casas, ora de um, ora de outro, antes de se construir o salão paroquial. Com a construção do salão, as reuniões passaram a ser ali todas as semanas. 
Nas reuniões, nós falávamos sobre relacionamento, sexo, esperanças de cada um, desenvolvimento, progresso. Realmente, eram reuniões formadoras de opinião. Nesses encontros, não havia a presença de nenhum padre, mas alguns seminaristas que moravam no bairro também participavam, como o Círis e o Pedro. Eles se tornaram muito mais amigos que líderes. Não tinham nenhuma influência direta sobre nossas opiniões. Eram companheiros mesmo e tinham idade próxima à nossa. 
 
 Terezinha Renna fundadora do GAV
 
A turma que participava dos encontros era bastante mobilizada. Acredito que chegou a ter mais de 50 integrantes. Nós fazíamos muita atividade com a sociedade, como "Horas Dançantes", que ocorriam cada semana na casa de uma pessoa. Não havia bebida alcoólica, apenas ponche, salgadinho e música. Às vezes, fazíamos alguns eventos mais elaborados no salão paroquial da igreja, com apresentação de teatro para o pessoal do bairro, jogral, concursos musicais, entre outros. Certa vez, fizemos o "Baile das Sapucaias", que buscamos na Lagoa da Pampulha, para enfeitar as mesas. Nós costumávamos fazer excursões. Fomos para Jaboticatubas, fizemos uma caminhada para Pedro Leopoldo e para Lagoa dos Mares, entre outras. 
 
 
Turma do GAV em Azurita   
 
Além dessas atividades de lazer, fazíamos também, com grupos menores, ações de solidariedade. Chegamos a construir casas de pau-a-pique para pessoas que viviam em porões, no bairro São José. Num dos porões, moravam uma senhora, o marido e três filhos pequenos. Duas das crianças eram subnutridas e foram acolhidas por Dôra e Terezinha, membros do GAV. Uma das meninas, Cidinha, que foi adotada pela família da Terezinha, tinha três anos e ainda não andava nem falava. Através da acolhida, a menina conseguiu ganhar peso e sobreviver, ficando com a nova família até se casar. Hoje é casada com o Toninho e são avós. 
O que acho mais interessante no grupo era o fato de ele ser democrático, não fazer diferença social ou cultural. Quando tinha algum evento ou passeio, todos eram chamados. Eu acho que esse foi o maior sucesso do grupo em todo o período que ele esteve presente no bairro.
Influência para o bairro
O bairro Jardim Montanhês era bastante humilde. Se não houvesse o GAV, acredito que a maioria daqueles grupinhos de jovens não teria muita perspectiva de crescimento. A não ser o fato de serem pessoas de família, de terem pais e mães como modelo de vida, não tinham outra perspectiva de crescimento senão o GAV. Com aquela orientação que a gente recebia, fomos amadurecendo, colocando na nossa cabeça que não era só aquilo, que a gente poderia trilhar um caminho melhor. Vimos que tínhamos que estudar, progredir, buscar um objetivo maior de vida. Para mim, isso foi muito importante porque eu era o filho mais velho de uma família de sete pessoas e meus pais tinham pouca condição financeira. 
A integração que o grupo proporcionou entre os jovens e suas famílias foi muito importante para o bairro. Todos os jovens se conheciam, iam na casa uns dos outros e não havia distância entre eles e os adultos. 
No grupo, a maior liderança, a mais expressiva e carismática era a Terezinha. Ela era uma pessoa muito dinâmica, extrovertida, tinha um diferencial para a época. Ela não era muito mais velha que os outros, mas era mais madura. Outros também exerciam uma liderança, como Osias, Osmar, a Xênia e o Danilo, que não era do bairro, mas acabou o adotando como seu. A Dôra, por exemplo, não era uma líder, mas era uma pessoa carismática, simpática e sorridente. 
Talentos no GAV
Algumas pessoas no grupo gostavam de escrever, de tocar violão, de compor. Na época, cheguei a escrever poesias, que estão reunidas em um livro. No entanto, acho que esta não era minha verdadeira vocação. Eu sou uma pessoa descontraída, alegre e, para escrever, tinha que estar mais deprimido, o que não acho que era bom para mim. Também gostava muito de desenhar, mas não dei continuidade. Algumas pessoas até tiveram sucesso nessas áreas. Danilo, por exemplo, fez Direito e usou a oratória que ele tinha no grupo. Para mim, acredito que o grupo me ensinou a falar em público e a aprender a mobilizar as equipes em torno de si, o que contribuiu para minha profissão de consultor de gerenciamento interno. 
Os namoros
Dentro do grupo, muitos casais tentaram namoro, alguns namoraram, como Evaldo e Maria José; Xênia e Douglas e Eu e Dôra. Nosso namoro foi mais um estímulo do grupo, foi um namoro do grupo e, à medida que o grupo foi se desfazendo, a gente foi esfriando, esfriando até terminar. Outros se casaram: Vanda e Cosme; Terezinha e Carlos Vitor; Leda e Luis; Zezé e Eilson; Danilo e Zeneida.
O fim do GAV
Em 1971, o GAV encerrou suas atividades. A Igreja começou a interferir, a querer colocar o grupo dentro de seus ensinamentos, seguindo uma orientação mais arcaica, fechada e rígida. Isso não deu certo, porque o grupo tinha um espírito mais aberto. Não que a gente não achasse importante a religião e a fé. Nas nossas reuniões, Cristo era um modelo a ser seguido. Mas, do jeito que a Igreja queria nos puxar para perto, não teve jeito senão pararmos. 
Eu me lembro bem que a pá de cal nesse grupo foi uma frase que um líder do encontro de casais nos disse: "Vocês tem que tentar levar esse grupo adiante, porque se vocês não tentarem não conseguirão ser mais nada na vida". Com isso, terminamos a reunião com um clima muito ruim, e nós não nos encontramos mais.
Depois disso, perdi completamente o contato com o pessoal, mudei de bairro, de interesses e perdi um pouco da afinidade que tínhamos.
Fizemos um encontro algum tempo depois, em julho de 1995. Foi uma tentativa mobilizada pela Dôra de reencontrar o pessoal que participava do grupo, o que deu certo, mas não se repetiu."


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