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Jardim Montanhês

A Fazenda São José


Alípio Ferreira de Mello e Ursulina de Andrade Mello vieram de Perdões (MG) para o Curral d'el Rey, em 1895, e adquiriram 200 alqueires geométricos de terra, localizados no vale do Córrego da Ressaca, do Pastinho, onde, hoje, encontram-se implantados os bairros do Castelo, Alípio de Mello, São José, Jardim Alvorada e Jardim Montanhês.

A fazenda de propriedade da família recebeu o nome de "São José" e tinha como principais atividades a pecuária extensiva de gado leiteiro, a extração de madeira e a agricultura de subsistência. Os limites da fazenda eram determinados por três outras fazendas da redondeza: a Fazenda dos Camargos, onde, hoje, situam-se os bairros Glória, Novo Glória e Pindorama; a Fazenda de Francisco Menezes Filho, onde se localizam, atualmente, os bairros Castelo, Manacás e Ouro Preto; e a Fazenda de Quinquim da Rocha, no município de Contagem.

Conta-se que, em 1930, época em que a Fazenda São José se prestou como refúgio aos envolvidos na Revolução, teve início o gradativo parcelamento de seus terrenos. Inicialmente, um fragmento da área foi destinado à construção do Aeroporto Carlos Prates, que isolou a Villa Minas Gerais, atual Jardim Montanhês, dos bairros vizinhos e contíguos, como Celeste Império, Inconfidência e Dom Bosco. As ruas Lorena e Curupati, que ligavam a Villa Minas Gerais ao Celeste Império, foram interrompidas pelo aeroporto, cortando o acesso da população da Villa à Capela de Cristo Rei. Nessa capela, o famoso Padre Eustáquio celebrava missas, pois ainda não existia a Igreja de Sagrados Corações, no centro do bairro Padre Eustáquio.

Com a construção do aeroporto, a pequena Villa Minas Gerais ficou isolada, inclusive sem escolas e sem saída por ruas onde pudessem trafegar os poucos carros. A implantação do aeroporto, ao mesmo tempo, significou progresso e estagnação. Abriu muitas oportunidades de empregos para os operários locais como pedreiros, marceneiros, mecânicos e operadores de máquinas. Um deles era Alípio Ribeiro da Silva, um excelente carpinteiro, natural da cidade de Oliveira, que já morava na Villa desde 1936, na rua Morro da Graça, 77, atual rua Estevão de Oliveira. Foi ele quem construiu a armação dos telhados dos galpões ainda existentes no aeroporto. Muitos moços vieram de fora para trabalhar na construção do aeroporto e namoraram as moças da Villa, sendo que alguns se integraram por ali e constituíram famílias.


O Córrego do Pastinho 


Além do aeroporto, a Villa Minas Gerais se encontrava dividida pelo Córrego do Pastinho, que nascia próximo à sede da fazenda, onde passa, atualmente, o anel rodoviário, BR 262, no final da Av. Dom Pedro II. Suas águas límpidas desciam até se encontrar com outro córrego, vindo da Villa Celeste Império, na altura da Av. Dom Pedro II com rua Vila Rica, e este ia crescendo, ajuntado por outras águas nascentes do Caiçara, Bonfim e Carlos Prates, até desaguar no Arrudas, do Arrudas para o Rio das Velhas, deste rio para o São Francisco e, do Velho Chico, para o mar.

Esse córrego, como lembram os moradores do bairro, tornava-se, em épocas de chuva, um grande rio, alagando tudo e expandindo-se por suas margens. Nele, existiam as famosas pinguelas de tronco de madeira, em alguns pontos: uma delas, em frente à rua Estevão de Oliveira; outra, na passagem da rua Bom Retiro; todas precárias e construídas pelos moradores. A Villa era um retrato do abandono do poder público, sem planejamento urbano, sem ruas decentemente abertas, sem pontes, sem linha de ônibus, sem água encanada, sem esgoto, sem postos de saúde, sem coleta de lixo, sem telefone; tudo isso até meados dos anos 70. Entretanto, contava com moradores ativos que, aos poucos e com recursos próprios, tentavam melhorar as condições da Villa. Entre eles, o Sr. Manoel Gomes Júnior, Dona Ambrozina, o Sr. Pierre, que por mais de uma vez tentaram organizar os moradores para reivindicar, junto aos prefeitos e representantes locais, melhorias para aquela comunidade.

A construção do aeroporto alterou em muito o fluxo de água pluvial da Villa, transformando as ruas em rios que abriam imensas fendas, os famosos "buracões", que dificultavam a circulação das pessoas e onde era necessário construir mais pinguelas. Neles, os moradores despejavam o lixo e os queimavam.


A criação do Jardim Montanhês


Mais tarde, com a aceleração do processo de urbanização, foram criados os bairros Jardim Montanhês, São José, Manacás, Inconfidência e Alípio de Mello. Embora a expansão urbana na região tenha se intensificado nas últimas décadas, em função das condições topográficas e de sua localização no município, boa parte da Fazenda São José manteve suas características de propriedade rural, constituindo-se em importante área de descontinuidade urbana. A relevância dessa descontinuidade no contexto urbanístico da metrópole emergente, aliada à necessidade de se elevar os índices de área verde por habitante, levou a Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana, Plambel, a incluir, em 1976, a área remanescente da Fazenda São José em seu Programa Metropolitano de Parques Urbanos, sugerindo, em caráter prioritário, a criação do Parque da Ressaca.

Segundo a proposta da Plambel, os objetivos do então denominado Parque da Ressaca abrangeriam a manutenção da área como zona de descontinuidade, a preservação biológica, a realização de pesquisas, a dissipação e a contenção da poluição, o lazer cotidiano e de fim de semana, entre outros. Nessa época, a área existente para a implantação do parque era de cerca de 300 hectares e, nela, sugeria-se a implantação de áreas esportivas e de recreação, jardim botânico, fazenda-modelo, restaurante e bar, preservando a mata existente naquela localidade. Não obstante a importância do parque proposto pelo Plambel para a comunidade da zona noroeste do município, prevaleceu a pressão imobiliária em detrimento das necessidades ambientais da população.

Em 22 de setembro de 1978, os proprietários da Fazenda São José, para viabilizar a aprovação do projeto de urbanização e parcelamento de sua propriedade, doaram ao município toda a mata remanescente da fazenda, com área aproximada de 242.000 m². Foram condições de doação a aprovação do projeto de urbanização e parcelamento acima mencionado e a destinação da área à construção do parque municipal. No dia seguinte, o Prefeito Municipal, através do Decreto 3338, criou o Parque Municipal Ursulina de Andrade Mello, indicando o Departamento de Parques e Jardins, então vinculado à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, como o responsável por sua implantação e conservação.

Com a criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e sua subsequente estruturação, em setembro de 1983, a área do parque voltou a ser objeto de atenção e, por determinação do Secretário Irã Cardoso, foram iniciados os estudos preliminares para implantação do Parque Municipal Ursulina de Andrade Mello.


Cotidiano


Na memória dos moradores e ex-moradores, especialmente os mais velhos, o Jardim Montanhês era um bairro marcado pelo bucolismo, pela grande horta do Sr. Manoel Português, ladeada pelos poços onde lavadeiras, senhoras e meninas, expunham as belas pernas nos vestidos arregaçados, lavando roupas em meio à cantoria e às conversas de comadre. Os meninos estavam por ali, jogando bola, finca e catando frutas silvestres, como araçá e gabiroba. Muitas mulheres se embrenhavam pelos matos na busca da lenha seca que, a cada dia, era tirada mais longe de casa. Bem na entrada do bairro, ficava a Casa das Abelhas, quase um sítio que ocupava a quadra cercada pelas ruas Moema, Bom Retiro, Alvorada de Minas e Av. Dom Pedro II. Naquele espaço, Sr. Gustavo, natural da Alemanha, criava abelhas e colhia um saboroso mel, vendido em garrafas e copinhos ali na região e também no Mercado Central de Belo Horizonte. Para os padrões da época, a tecnologia da Casa das Abelhas chamava a atenção, com o portão de madeira que deslizava sobre trilhos também de madeira, automaticamente, movido por motores que puxavam um cordão encerado.

 

Surge, do dia para a noite, uma grande favela

Não é nenhuma novidade o descaso do poder público com o bairro Jardim Montanhês, ao longo de sua história. Na gestão de Maurício Campos, a então famosa Vila dos Marmiteiros foi desapropriada para dar lugar à Via Expressa Leste Oeste. Como era sabido que a Av. Dom Pedro II seria aberta, ou melhor, continuada a partir do anel, ligando o Jardim Montanhês aos bairros da Pampulha, Castelo e Alípio de Melo sem contornar o campo de aviação, moradores organizados da comunidade da Vila dos Marmiteiros (ou Vila São Vicente), que haviam sido desapropriados, mudaram-se em massa para o local onde passaria a Av. Pedro II. Num único final de semana, foram construídas inúmeras moradias precárias e, nas semanas seguintes, a ampliação foi formatando um grande problema, a Favela São José. Na visão dos moradores antigos, sem nenhum preconceito, a construção daquela favela mudou o perfil do bairro e ajudou a tornar o lugar perigoso, além de desvalorizar os imóveis localizados por perto.


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