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O sincretismo religioso de Brasília

Ao se voltar os olhos para o passado percebe-se a religiosidade intrínseca à história da construção de Brasília. Conta-se que a localização da nova capital federal foi profetizada pelo padre italiano São João Bosco durante um sonho na noite de 30 de agosto de 1883. Ao narrar seu sonho durante o Capítulo da Congregação Salesiana, realizado em 4 de setembro do mesmo ano, o padre contou que foi levado por anjos viajando “em um sonho que não era sonho”1:
 
“Por muitas milhas, percorremos uma enorme floresta viagem inexplorada. Não só descortinava, ao longo das Cordilheiras, mas via até as cadeias de montanhas isoladas existentes naquelas planícies imensuráveis e as contemplava em todos os seus menores acidentes. Aquelas de Nova Granada, da Venezuela, das Três Guianas, as do Brasil, da Bolívia, até os últimos confins. Eu via as entranhas das montanhas e o fundo das planícies. Tinha sob os olhos as riquezas incomparáveis desses países, as quais um dia serão descobertas. Via numerosas minas de metais preciosos, e de carvão fóssil, depósitos de petróleo abundantes que jamais se viram em outros lugares. Mas isso não era tudo. Entre os paralelos 15 e 20 graus, havia um leito muito largo e muito extenso onde se formava um lago. Então uma voz disse de repente: Quando escavarem as minas escondidas no destes montes, aparecerá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. E essas coisas acontecerão na terceira geração.” 2

Como que se realizada a profecia do padre, Brasília foi construída entre os paralelos 15°30’ e 16°03’, entre os rios Preto e Descoberto, área aprovada em 1955 durante a campanha de Juscelino Kubistchek. “E veio-me à mente, outra vez, a frase profética do santo Bechi: ‘E essas coisas acontecerão na terceira geração. Dom Bosco falecera em 1888. Computando-se o período de vinte anos para cada geração, era óbvio que a década dos anos 50 seria a da ‘terceira geração’. As forças misteriosas que regem o mundo haviam agido no sentido de que as circunstâncias se articulassem e criassem a “oportunidade” para que o velho sonho se convertesse em realidade. Justamente na década de 50 a ideia havia chegado à maturação, requerendo execução. (...) A visão de Dom Bosco fora, de fato, uma antecipação, uma advertência profética sobre o que iria ocorrer no Planalto Central a partir de 1956”.3  

Ao encontro da mística a qual a construção da nova capital estava envolta, Lúcio Costa escreveu no relatório do Plano Piloto de Brasília, que a ideia do traçado da cidade “nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”.

A primeira missa realizada em Brasília ocorreu em 3 de maio de 1957 , e foi presidida pelo Cardeal Carlos Vasconcelos Carnelo Motta, arcebispo de São Paulo5, onde hoje se pode visitar o Cruzeiro que marca o local de realização da cerimônia, próximo ao Memorial Juscelino Kubitschek.

No ritmo acelerado de desenvolvimento da cidade, a capital federal passou a reunir em seu espaço manifestações religiosas distintas, resultado da multiplicidade de povos que construíram e povoaram a cidade. Ao se observar Brasília sobre o prisma religioso, vemo-nos diante de uma cidade que comporta “toda tendência de cor, credo, religião e fé”.6 Essa diversidade de credos e crenças coloca o “DF na rota do turismo religioso”7, com seus mais de 800 templos das mais variadas religiões.8

Percorrer a cidade pode resultar no encontro de Centros Islâmico e Espírita; Templo Budista; igrejas Adventistas, Anglicanas, Batistas, Católicas, Evangélicas, Messiânicas, Orientais, Presbiterianas, Sinagoga, entre outros. Além de grupos e comunidades que, de forma autônoma, ao longo dos anos, adaptaram e recriam rituais, doutrinas e práticas a partir das suas experiências individuais, constituindo outras formas de manifestação religiosa, mística e/ou esotérica.

Alguns locais de adoração da cidade se tornaram referência não somente para quem busca desfrutar do turismo religioso, mas também conhecer os espaços sagrados considerados patrimônio histórico do Distrito Federal, como o Templo da Boa Vontade, a Catedral Metropolitana de Brasília e a Ermida Dom Bosco - as duas últimas projetadas por Oscar Niemeyer. E ainda o Vale do Amanhecer, localizado em Planaltina, considerado patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) .
 
O interesse pelo turismo religioso em Brasília tem resultado em pesquisas acadêmicas, como a “Brasília: turismo, religiosidade e misticismo”9 , produzida no curso de especialização para Professores e Pesquisadores em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Brasília (UnB), ou mesmo a “Turismo e Misticismo em Brasília”10, apresentada no programa de mestrado em Geografia da mesma instituição.

Um fato curioso sobre os movimentos religiosos em Brasília está relacionado ao decreto de Lei Nº 12.328, sancionado em 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estabelece 30 de novembro “Dia Nacional do Evangélico”. Apesar do decreto não instituir feriado ou ponto facultativo no país, a data integra o calendário oficial de Brasília, e é considerado ponto facultativo no Distrito Federal11

É essa Brasília mística e diversa, que se apresenta aos moradores e visitantes por meio da sua história de origem, de seus templos, manifestações religiosas e estudos acadêmicos, que parece ter tornado a cidade símbolo do turismo cívico e arquitetônico, referência, também, no turismo religioso.
 

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1 In: COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira / 6° ed. rev – Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 33 -35

2 In: COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira / 6° ed. rev – Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 33 -34.
3 Juscelino Kubitschek de Oliveira. In: COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira / 6° ed. rev – Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 34-35
4 Informação disponível em http://www.museuvirtualbrasil.com.br/museu_brasilia/modules/news3/article.php?storyid=10, consultada em 14 de novembro de 2012.
5 Informação disponível em http://brasiliadetodosnos.com.br/home/missa-campal-em-homenagem-a-primeira-missa-em-brasilia/, consultado em 13 de novembro de 2012.
6 XAVIER; José Luiz. Brasília: turismo, misticismo e religiosidade. Monografia. Brasília, Distrito Federal, 2010.  p.50
7 Informação disponível em http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/12/diversidade-de-templos-e-crencas-poe-df-na-rota-do-turismo-religioso.html, consultada em 14 de novembro de 2012.
8 Informação disponível em http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/12/diversidade-de-templos-e-crencas-poe-df-na-rota-do-turismo-religioso.html, consultada em 14 de novembro de 2012.
9 Informação disponível em http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/353/1/2003_JoseLuizXavier.pdf, consultado em 14 de novembro de 2012.
10 Informação disponível em http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/espaco_academico/dissertacoes_teses/detalhe/Turismo_Misticismo_Brasilia.html, consultado em 14 de novembro de 2012.
11 Informação disponível em http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2010/09/16/interna_brasil,213322/index.shtml, consultado em 14 de novembro de 2012.
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