Iate Golf Clube

Data 23/01/2013 16:10:00 | Tóopico: Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Lagoa da Pampulha

Com o formato que remete a um veleiro passeando sobre as águas da Lagoa da Pampulha,1  o Yacht Golf Club, primeiro nome do Iate Golf Clube, atual Iate Tênis Clube, foi construído a partir de um projeto que se diferenciava dos traços utilizados por Oscar Niemeyer nos demais edifícios do Conjunto Paisagístico e Arquitetônico da Pampulha. Ao privilegiar as retas ao invés das curvas, como adotado nos projetos da Igrejinha da Pampulha, do Cassino e da Casa do Baile, o arquiteto adornou a orla da lagoa com um edifício em linhas duras, no qual se destaca o telhado asa de borboleta com inclinação em ‘V’, 2 em uma composição tipicamente modernista.
 
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 Inauguração do Iate Golf Clube, em 1943.
Foto: Acervo MHAB
 
A casa-barco “que se lança sobre as águas tranquilas da lagoa”, 3 foi construída para confluir em um só lugar lazer e o convívio familiar, por meio de atividades esportivas e de entretenimento. De acordo com o projeto original, no térreo foi construída a garagem de barcos e lanchas, inundada pelo lago. Com piso revestido de tacos de madeira, o prédio contava com os espaços social e esportivo, equipados com vestiários, salão de cabelereiro, lavanderia, hangar, copa, cozinha, restaurante, três quadras de tênis, e outras apropriadas para a prática de basquete e vôlei.  Além de um playground para as crianças e uma piscina.

Para as festas temáticas, que logo se tornaram uma das principais atrações do clube, foram construídos dois salões de festas: o Espelho d’água e o Portinari, decorados com trabalhos de destacados artistas. O primeiro com obras de Estergilda Menicucci e o segundo com a tela “O suicídio de consciência”, também conhecida como “Espantalho”, assinada por Cândido Portinari, e pelo painel “O Esporte”, de Roberto Burle Marx, responsável, também, pela concepção do projeto paisagístico dos jardins do clube.

Os vidros no lugar das paredes promoveram “a típica integração modernista entre espaço interno e externo”.4  No lado oeste, para controlar a entrada dos raios de sol, que ao atravessar as vidraças invadiam o interior do prédio, foram instalados brises soleils, “lâminas verticais pivotantes, muito difundidas na arquitetura modernista, por seu apelo estético aliado à ciência funcional”.5

O Iate Golf Clube foi inaugurado em 1942 como propriedade pública, sob a administração da prefeitura de Belo Horizonte. Sua instalação no orla da lagoa da Pampulha foi decisiva para o desenvolvimento da prática de esportes náuticos no lago artificial, movimento que veio concretizar as intenções de Juscelino Kubitschek para o espaço.

Em consonância com o Cassino e com a Casa do Baile, o clube atraia os abastados de Belo Horizonte para uma Pampulha cada vez mais sofisticada. A represa não era mais apenas espaço para pescaria. Com a criação do clube, suas águas passaram a ser riscadas pelos motores das lanchas e pelas pranchas dos praticantes de esqui aquático. E ainda se tornaram palco para as competições de vela e de remo.

Em meados de 1942, as competições entre os clubes de regatas criados dentro dos clubes sociais de Belo Horizonte atraiam suas torcidas para a orla da lagoa. A prática do esporte na região não perdurou por muito tempo devido ao rompimento da barragem da Pampulha, em 1954. Sem lugar para a prática do esporte na cidade, logo os clubes começaram a se desfazer.
 
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 Regata na Lagoa da Pampulha onde se observa quatro homens em uma canoa e uma lancha ao fundo
Foto: Acervo MHAB

Na década de 1960, a prefeitura de Belo Horizonte decidiu vender o Iate Golf Clube, na tentativa de arrecadar recursos para a resolução do problema de abastecimento de água que Belo Horizonte enfrentava. A represa, originalmente criada para abastecer a cidade, já não exercia mais essa função.6 A cidade havia crescido para além da capacidade de abastecimento da represa e suas águas não estavam em condições de uso.  “Com o passar dos anos, muitos associados também utilizaram as instalações do clube para garagem de suas lanchas (...), quando a poluição da lagoa atingiu níveis impróprios para o contato humano, nos anos oitenta, essas atividades foram proibidas, mantendo-se assim até os dias de hoje”.7

A venda do clube não ocorreu de forma pacífica. Com receio de que o espaço viesse a se tornar frequentado por pessoas “socialmente menos qualificadas”, parte dos sócios contestou a decisão.  Manifesto que não teve sucesso. Em 1961, durante a administração do prefeito Amintas de Barros, a privatização foi realizada.

 Insatisfeitos com a decisão, alguns dos membros do Iate Golf Clube decidiram deixar de serem sócios para fundar o Pampulha Iate Clube (PIC). No novo espaço, esses membros intencionavam preservar a integridade do grupo, ou seja, impedir com que fossem aceitos membros fora dos patamares antes referência no Iate Golf Clube. Após o desmembramento de um dos clubes mais tradicionais da cidade, outros foram fundados na orla da lagoa, como o Clube Libanês e o Clube Belo Horizonte.

 A mudança na administração do Iate Golf Clube, não trouxe consigo somente a nova gestão, mas também a alteração do nome do espaço, que passou a se chamar: Iate Tênis Clube (ITC). Estudos sobre a conservação do clube indicam que após 1961 diversas obras começaram a ser realizadas no edifício. “De forma inicialmente lenta e mais acentuadamente a partir do final dos anos setenta e nos anos oitenta, o clube assistiu a um crescimento significativo e a um aumento correspondente de novas edificações”. 8

Nesse período foi construído um muro na entrada do clube e uma portaria elétrica que antecede o edifício principal, uma varanda anexa ao restaurante, uma nova piscina e duas torres de caixa d’água. Mas a intervenção considerada a mais polêmica de todas foi a construção da “nova sede com espaço para garagem, serviços e um novo e mais amplo salão de festas no segundo andar".9

 Assim como as intervenções realizadas ao longo dos anos em outros edifícios do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Lagoa da Pampulha, as modificações realizadas no clube foram amplamente criticadas por Niemeyer e membros de órgãos de preservação do patrimônio histórico, que chamavam a atenção para o movimento de descaracterização do edifício.

No final de 2010, a diretoria do Iate Tênis Clube, convidou o professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Flávio Carsalade, para elaborar um Plano Diretor para o clube que concedesse “diretrizes adequadas para uma harmonização do seu futuro e da valorização de sua história, bem como sugerisse negociações para resolução de impasses".10

 Após realizar o diagnóstico sobre a situação em que o edifício do Iate Tênis Clube se encontrava, foi proposta a realização de obras no edifício que viabilizassem a recuperação do patrimônio histórico, a promoção e recuperação ambiental em acordo com a realização de suas atividades cotidianas.

Para que esses objetivos se tornassem realidade, seria necessária a demolição dos elementos considerados descaracterizastes: o segundo andar do edifício novo onde se encontra o Salão de Festas, dos prédios localizados nos jardins de Burle Marx; a restauração completa e a manutenção continuada do projeto original do clube; garantia pela Prefeitura de Belo Horizonte da posse definitiva de um lote que ela havia concedido ao clube para a solução de problemas de sobrevivência do clube, e a liberação de Unidades de Transferência de Direito de Construir ao ITC, entre outras ações.11

As propostas expostas no Plano Diretor foram encaminhadas aos órgãos públicos competentes. No entanto, até janeiro de 2013, o clube não havia recebido nenhuma obra de recuperação de seu projeto original.  

Atividades
O Iate Tênis Clube permanece sob a administração privada. Equipado para a prática de diversas atividades esportivas, como tênis, sinuca, peteca e natação. O clube também oferece sua estrutura e serviços para a realização de festas de debutantes, casamento, formaturas, eventos empresariais e outras comemorações, como o tradicional ‘Reveillon Iate’.

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1 Folder 1 da série Roteiros Arquitetônicos da Pampulha.  Casa do Baile, 2012.
2 BAHIA; Denise Marques. A arquitetura política e cultura do tempo histórico na modernização de Belo Horizonte (1940-1945). Tese apresentada ao Programa de Doutorado em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011. P. 139
3 Informação disponível em http://www.belohorizonte.mg.gov.br/atrativos/roteiros/marcos-da-modernidade/arte-chamada-pampulha, consultada em 16 de janeiro de 2013.
4 BAHIA; Denise Marques. A arquitetura política e cultura do tempo histórico na modernização de Belo Horizonte (1940-1945). Tese apresentada ao Programa de Doutorado em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011. P. 139
5 Folder 1 da série Roteiros Arquitetônicos da Pampulha.  Casa do Baile, 2012.
6 MINTZ, Vania. As origens da degradação da Pampulha em Belo Horizonte. p. 8
7 CARSALADE, Flávio L.; CASTRO, Maria Angela R. de. A experiência de conservação do Iate Tênis Clube da Pampulha como indicador da importância da abordagem contextual. 2011, p. 6.
8 CARSALADE, Flávio L.; CASTRO, Maria Angela R. de. A experiência de conservação do Iate Tênis Clube da Pampulha como indicador da importância da abordagem contextual. 2011, p. 6.
9 CARSALADE, Flávio L.; CASTRO, Maria Angela R. de. A experiência de conservação do Iate Tênis Clube da Pampulha como indicador da importância da abordagem contextual. 2011, p. 6.
10 CARSALADE, Flávio L.; CASTRO, Maria Angela R. de. A experiência de conservação do Iate Tênis Clube da Pampulha como indicador da importância da abordagem contextual. 2011, p. 6.
11 CARSALADE, Flávio L.; CASTRO, Maria Angela R. de. A experiência de conservação do Iate Tênis Clube da Pampulha como indicador da importância da abordagem contextual. 2011, p. 8




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