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Pampulha

O Cassino da Pampulha foi a primeira obra do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha a ser construída. Inaugurado em 1943, o espaço foi projetado com o objetivo de servir às atividades de lazer dos indivíduos abastados.  Equipado com sala de jogos, pista de dança, restaurante e bar, na década de 1940 o Cassino se tornou referência ao confluir diversão e glamour. Cenário procurado não somente pelos ricos residentes na capital Mineira, mas também por outros vindos do interior e de fora do estado ou até mesmo do exterior.
 
Assim como as demais edificações projetadas para o conjunto na orla da lagoa da Pampulha, o Cassino não foi construído nos parâmetros arquitetônicos de um prédio convencional. Sua forma, envolvendo retas e curvas, surpreende pela originalidade dos elementos. “Na entrada o chão é de mármore português, e no segundo pavimento, o piso é de peroba. O toque moderno vem da estrutura de concreto armado, das esquadrias de ferro e das colunas interiores revestidas de aço inox”.1 As rampas tomam o lugar das escadas servindo aos frequentadores do lugar, como lembrado por seu projetista, Oscar Niemeyer: “Fiz este projeto em uma noite, não tive alternativa. Mas quando funcionava como cassino, cumpria bem suas finalidades, com seus mármores, suas colunas de aço inoxidável, e a burguesia a se exibir, elegante, pelas suas rampas”.2
 
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 Cassino da Pampulha, atual Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte - APCBH/Assessoria de Comunicação do Município 

Devido aos vidros espelhados, que se destacam na paisagem, o Cassino era chamado pela imprensa de “Palácio de Cristal”. Além das roletas, o espaço abrigava o Grill-room, que funcionava ao mesmo tempo como restaurante, salão de dança e casa de shows. Esse foi construído “de forma circular, com paredes e pista de dança de vidro, provida de um moderno processo que permite a variação rápida das cores, elevador automático para os artistas, estrutura projetada para observar o som, e boa visibilidade de qualquer parte do ‘grill”.4 Os bailes dançantes promovidos no lugar, contavam com a presença de artistas conhecidos, e de figuras políticas, como o próprio Juscelino Kubitschek, que à época já possuía fama de exímio “pé de valsa”.  

No exterior do Cassino os jardins delineados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), foram adornados pelas esculturas Abraço, Nu, Sem Nome e A Porta de Alfredo Ceschiatti (1978-1970), August Zamoyski (1893-1970), José Pedrosa (1915-1989), e de Almicar de Castro,5  nessa sequencia.

Em 1946, o Cassino da Pampulha estava na rota das principais casas de jogos do país, dentre as quais se destacavam o Palácio Quitandinha em Petrópolis e o Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Todos administrados pelo empreendedor mineiro Joaquim Rolla.Mas aqueles primeiros anos de sucesso do Cassino da Pampulha ficariam marcados na memória dos que tiveram a oportunidade de desfrutar das atrações oferecidas no espaço. Somente três anos após sua inauguração, em 30 de abril de 1946, o então presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, proibiu os jogos de azar no país. Dentre outros argumentos, foi apontado que as práticas realizadas nos cassinos “decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes”.7 Com o fechamento dos cassinos, de certo modo, os frequentadores da Pampulha assistiram ao esvanecimento de parte do brilho ao qual o lugar estava envolto.

Após o encerramento de suas atividades, o espaço passou a servir apenas à realização de apresentações culturais e recepções.8 Foi somente em 1957 - onze anos após a instauração do decreto de lei que proibiu a prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacional-, que o espaço recebeu, oficialmente, uma nova função.
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Cassino da Pampulha, atual Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte - APCBH/Assessoria de Comunicação do Município

 Com o estímulo do empresário de comunicação e mecenas, Assis Chateaubriand, foi criado nas dependências do antigo Cassino, o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a partir da Lei Municipal nº 674, de 23.12.1957.9 Nessa época, “as políticas públicas culturais em Belo Horizonte eram gerenciadas pelo então Departamento de Educação e Cultura - DEC -, regulamentado pelo Decreto-lei nº 209, de 11 de novembro de 1947 e, mais tarde, pela Lei Municipal nº 333, de 23 de maio de 1953 e que se encarregava, dentre outras competências, de administrar os Salões de Belas Artes que se sucediam anualmente desde a década de 1940”.10

Em 1969, ao passar a receber obras de artistas de todo o país, os Salões Municipais de Belas Artes passaram a ser denominados: Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte. Os melhores trabalhos apresentados no Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte eram condecorados com um prêmio e expostos no Museu de Arte da Pampulha, que passava a incorporar as obras vencedoras ao seu acervo. Em 2010, cerca de 40% do acervo era composto por peças advindas dos salões nacionais.11
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XI Salão Nacional de Arte, dezembro de 1979
Foto: Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte - APCBH/Assessoria de Comunicação do Município
Em 1996, quando o MAP completou 53 anos, foi lançado o livro “Entre Salões”, que reúne ensaios críticos sobre a história dos salões de arte de Belo Horizonte. Durante a pesquisa para a produção do livro, Luciana Bonadio, então responsável pela Divisão de Conservação e Restauração do MAP, percebeu a necessidade de se desenvolver um projeto de higienização e acondicionamento do acervo arquivístico: “Quando comecei a pesquisar para o livro Entre Salões, vi que era necessário fazer o tratamento dos documentos que já estavam começando a se degradar”.12  Para a realização desse trabalho, o MAP contou com o patrocínio de R$135 mil concedidos pelo Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O projeto de Higienização e Acondicionamento do Acervo Arquivístico do Museu de Arte da Pampulha foi concluído em maio de 2011, e deu origem ao Centro de Documentação e Pesquisa do MAP. Para constituição do Centro, foi preciso realizar a “identificação, higienização, acondicionamento, armazenamento e registro dos documentos arquivísticos do Museu”.13 O trabalho teve como objetivo facilitar o acesso à pesquisa ao acervo, por parte tanto dos funcionários do museu quanto dos pesquisadores. Ao todo foram catalogados mais de 40 mil documentos,14  a serem armazenados em sala climatizada.

Ainda em 2011, o projeto venceu a etapa estadual da 24° edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 1987, na intenção de reconhecer “ações de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro que, em razão da sua originalidade, vulto ou caráter exemplar, sejam dignas de registro e reconhecimento público”.15

Tombado nas esferas municipal, estadual e federal, o Museu de Arte da Pampulha terá o piso da fachada do prédio restaurada nos parâmetros da década de 1940.16  A restauração faz parte das obras que serão realizadas nos edificações do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha, em prol da candidatura do conjunto ao título de Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), lançada pela prefeitura da Belo Horizonte em 2012.

Essa não será a primeira vez que o museu recebe melhorias. Em 1996, o museu teve sua estrutura melhorada a partir de reforma realizada com o patrocínio do Banco Real e da Fundação Roberto Marinho. A obra possibilitou também a renovação de toda a infraestrutura técnica e a organização museológica do museu. Nesse momento o prédio passou a contar com salas multimídia, biblioteca, café e bar.  

Atualmente o museu contribui com a promoção do Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, e realiza em seu espaço diversas atividades culturais. Periodicamente o MAP expõem obras do acervo e apoia a divulgação das produções de artistas contemporâneos tanto nas artes plásticas, quanto na música.

Desde 2003, em todo o primeiro domingo do mês, às 11h, o palco do auditório do Museu de Arte da Pampulha recebe grandes artistas da Musica Popular Brasileira (MPB), samba e instrumental, por meio do projeto: Domingo no Museu, Dentre os artistas que já se apresentaram no MAP, estão Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Paulo César Pinheiro, Sérgio Santos, Teresa Cristina, Fabiana Cozza e Juarez Moreira.  Os ingressos para as apresentações são vendidos a preços populares e podem ser adquiridos no próprio MAP.17

Bolsa Pampulha

Desde 2002, o Museu de Arte da Pampulha recebe artistas para residência por meio da Bolsa Pampulha, programa da Fundação Municipal de Cultura (FMC), destinado a selecionar e conceder bolsas para artistas que se dediquem durante 11 meses consecutivos à realização de projetos inéditos e exclusivos em artes visuais para o MAP. A seleção é realizada durante o Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte.
 

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 1 Informação disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/reportagem-obra-prima, consultada em 10 de janeiro de 2013.
2 Informação disponível em http://www.belohorizonte.mg.gov.br/atrativos/roteiros/marcos-da-modernidade/arte-chamada-pampulha, consultada em 10 de janeiro de 2013.
3 Revista Veja BH, 19 de dezembro de 2012, p. 87.
4 Revista Veja BH, 19 de dezembro de 2012, p. 63-64.
5 Informação disponível em http://www.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/turismo/pontos-turisticos/10166-museu-de-arte-da-pampulha/53449-museu-de-arte-da-pampulha/5146/5044, consultado em 11 de janeiro de 2013.
6 Joaquim Rolla, nascido em São Tomé, distrito de Dom Silvério (MG), em 15 de agosto de 1899, faleceu no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1972. É um dos principais nomes da história do jogo no Brasil. Num lance de cartas (literalmente), tornou-se dono do lendário Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, o mais famoso do país e por onde passaram Carmen Miranda, Orson Welles, a alta sociedade, políticos e muito dinheiro. Não bastasse, construiu o Quitandinha (aberto também como cassino, em Petrópolis), o Pavilhão de São Cristóvão (no Rio) e o Edifício JK (em Belo Horizonte), um dos maiores de Minas Gerais. E ainda fez e administrou mais cassinos - incluindo o da Pampulha –, hotéis e estradas, além de ter fundado um jornal, a Folha da Noite Mineira. Informação disponível em http://www.divirta- se.uai.com.br/html/sessao_7/2012/03/06/ficha_agitos/id_sessao=7&id_noticia=50280/ficha_agitos.shtml,  consultada em 11 de janeiro de 2013.
7 Informação disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del9215.htm, consultado em 11 de  janeiro de 2013.
8 Informação disponível em http://tvbrasil.ebc.com.br/conhecendomuseus/episodio/museu-de-arte-da-pampulha, consultada em 10 de janeiro de 2013.
9 Informação disponível em http://www.acervoarquivopublico.pbh.gov.br/acervo.php?cid=183, consultado em 10 de  janeiro de 2013.
10 Informação disponível em http://www.acervoarquivopublico.pbh.gov.br/acervo.php?cid=183, consultado em 10  de janeiro de 2013.
11 Informação disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/reportagem-obra-prima, consultado em 10 de janeiro de 2013.
12 Informação disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/reportagem-obra-prima, pesquisado em 10 de janeiro de 2013.
13 Informação disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do? evento=portlet&pAc=not&idConteudo=49933&pIdPlc=&app=salanoticias, consultado em 11 de janeiro de 2013.
14 Informação disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do? evento=portlet&pAc=not&idConteudo=49933&pIdPlc=&app=salanoticias, consultado em 11 de janeiro de 2013.
15 Informação disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do? evento=portlet&pAc=not&idConteudo=49933&pIdPlc=&app=salanoticias, consultado em 11 de janeiro de 2013.
16 Informação disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do? evento=portlet&pAc=not&idConteudo=88484&pIdPlc=&app=salanoticias, consultada em 10 de janeiro de 2013.
17 Informação disponível em http://www.veredasproducoes.com.br/, consultado em 14 de janeiro de 2013.

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