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Pampulha


A construção da barragem da Pampulha foi iniciada em 1936, e teve como responsável pela obra o empreiteito Ajax Rabello. À época os estudos e projetos foram realizados pelo engenheiro e também empreiteiro, Henrique Novais, que orientou a obra durante sua primeira fase de construção,de 1936 a 1938, quando a barragem foi elevada a altura de 11,5 metros e em seguida colocada em funcionamento e inaugurada.

Entre os anos de 1938 a 1940, a Prefeitura buscou tratar a água com sulfato de cobre para eliminar o “Schistosoma masoni”, agente causador de esquistossomose, que contaminava a água da lagoa. Ainda com a intenção de eliminar o parasita,  foi iniciada a criação de patos e marrecos na lagoa com o objetivo de que as aves viessem a se alimentar dos caramujos hospedeiros da cercaria. Os caramujos se proliferavam de tal forma que era possível encontrar montículos de um metro de altura às margens da lagoa.

Mas esse cenário não representou o maior desafio enfrentado pelas autoridades públicas que ainda teriam que tratar de problemas mais alarmantes relativos à barragem da Pampulha. No ano de 1954, os jornais de Belo Horizonte noticiavam o vazamento da água da barragem. No dia 16 de maio de 1954, começou a ser visível o primeiro vazamento da barragem. “A água jorrava com muita fôrça como se viesse de um tubo junto à boca de lobo existente no cimentado que recobria o muro de pé do talude de jusante.” 

Desconhecendo o motivo do vazamento, as autoridades locais começaram a se mobilizar no anseio de evitar uma tragédia. Para isso, foram articuladas ações na intenção de encontrar o local da fenda e provocar o escoamento da água, o que levaria ao esvaziamento da lagoa. “No dia 17 foi possível localizar a fenda na placa de concreto armado que revestia o talude de montante, a 6,5 m abaixo da crista da barragem. Tentou-se vedar a fenda de aproximadamente 0,6 m de largura e 2,5 m de altura, com chapa de aço, colchões e sacos de areia.”  No entanto, as tentativas foram frustradas.
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Levantamento aerofotométrico, da área da barragem após a ruptura. Na imagem são mostradas as dimensões da área de ruptura, com curvas de nível. Foto: Acervo da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa

Sem obter resultados positivos toda a área no entorno da lagoa foi evacuada. Inclusive o Aeroporto da Pampulha, que teve sua malha aérea redirecionada para outras regiões, como narrado na reportagem de 18 de abril de 1954, veiculada pelo jornal “Estado de Minas”: “diferente do usual foi o espetáculo contatado no Aeroporto da Pampulha. Não havia um só avião naquele campo de pouso. Desapareceram os pássaros de metal. Até os aviões militares da FAB deslocaram-se para Lagoa Santa. [...] Todo o tráfego das linhas comerciais está sendo feito no campo de pouso da Fábrica Nacional de Aviões em Lagoa Santa.” 

Reportagem do jornal “O Diário”, do dia 20, destacou “imagens da barragem rompida e da inundação em vários locais da cidade, citando até núcleos residenciais limítrofes ou mesmo afastados como Aarão Reis e Matadouro (atual Bairro São Paulo), e Capitão Eduardo. Entre os prejuízos, contabilizavam-se a perda de plantações e animais, o desmoronamento de casas e a interrupção dos serviços de luzalém do completo alagamento das pistas do aeroporto. As construções da orla também tinham sua integridade ameaçada.

Em uma nova tentativa de gerar a redução do nível da água, foi provocada uma abertura de emergência na ombreira direita da barragem. Mas “a comporta do fundo da tôrre do vertedouro não funcionou.”  Assim, “decidiu-se provocar duas aberturas na tôrre a partir do uso de dinamites.”  Com a ação foi possível escoar 30% da água do reservatório, o que resultou na baixa de 1 m d’água acima da fenda. A redução do nível d’água parecia fazer voltar “[...] aos poucos a normalidade à região do desastre.” 

Controlada a emergência, para as autoridades, passava a ser prioridade a reconstrução da barragem e a descoberta do motivo do rompimento, até então desconhecido. Para realização desta última ação, foi criada pelo prefeito Americo Giannetti, uma Comissão de Inquérito composta pelos engenheiros Lincoln Continentino, Milton Vargas, Antônio Costa Nunes, Carvalho Lopes e Dante Frederico. Logo no início da investigação a Comissão identificou o desaparecimento das informações sobre os processos técnicos operados durante a construção da barragem.

Devido à falta de especificações, ordens de serviços e relatórios, para  se conhecer as condições  em que foi realizada a construção da barragem, a Comissão teve que se ater às informações oferecidas pelos engenheiros Ajax Rabello e Álvaro Andrade.

Assim, por não contarem com muitas informações, decidiu-se refazer a planta da barragem, no anseio de averiguar como ela havia sido construída.
 

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A primeira figura mostra o projeto de aumento da barragem assinado pelo engenheiro Henrique Novais. A segunda figura apresenta um projeto diferente de autoria da IFOCS. Foto: Acervo da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
 
A partir dessa análise, a Comissão verificou que os “drenos estavão ligados a um coletor transversal de 0,60m de diâmetro e deste sai um único emissário de 0,60m que vai ao poço coletor de água de infiltração da barragem. Saindo desse pôço, foi construída uma canalização de 0,20 m de diâmetro em vez de 0,60m como seria lógico, porque o tubo de saída deveria ter o mesmo diâmetro que o de entrada.” 

Com a identificação deste aspecto, ficou claro para a Comissão que a posição incorreta em que os drenos foram colocados provocou a intensa pressão na barragem. Assim, o sistema de drenagem “não poude suportar todas as deformações do corpo da barragem nem a influência dos agentes naturais, e rompeu-se..”  Com o estudo a Comissão chegou à conclusão de que a contrução da barragem não havia respeitado o projeto original.

No dia 30 de abril de 1954 foi aprovadaa Lei n° 383, que autorizou a abertura de crédito especial para a reconstrução da barragem da Pampulha. Dentre os gastos estimados, além das despesas com a própria barragem, foram contabilizados os relativos aos estudos, projetos, desapropriações, obras de urbanização e indenizações.

Segundo o historiador Henrique Luiz Garcia , a urgência pela reconstrução da barragem parecia refletir o receio de que a região viesse a ser desvalorizada. Anúncio da Empresa Nacional de Imóveis e Obras, do período, afirmava que: “Com verbas de cem milhões de cruzeiros para reconstrução da barragem em concreto, com duas pistas, alargamento da Avenida marginal, saneamento completo de bacia hidrográfica, a mundialmente conhecida Pampulha, o bairro residencial mais aprazível de Belo Horizonte, contará com todos os requisitos para seus habitantes e será um dos maiores balneários do Brasíl. Os serviços de reconstrução já iniciados determinaram uma grande procura de nossos lotes nas imediações do Cassino e na Beira do lago apesar disto estamos mantendo os mesmo preços. Nossos lotes são de 1.000 metros quadrados para cima.”

Assim se dava a reconstrução da barragem da Pampulha, em um movimento que  buscava reconstituir não somente sua estrutura física, mas, também, o encanto no qual a lagoa da Pampulha esteve envolta desde sua construção até o estabelecimento, em 1943, do complexo arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer.
 

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1VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955.p. 47
2VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p. 30.
3VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p.  30 - 31
4
5COUGO, Thais (Org.). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007. p. 91
6VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p.  31
7VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p.  31
8DESIMPEDIDO O aerorporto da Pampulha. O Diário, Belo Horizonte, p. 14, 23 abr. 1954. In.: COUGO, Thais (Org.). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007. p. 91
9VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p.  49
10VARGAS, Milton. A ruptura da barragem da Pampulha. São Paulo : [s.n], 1955. p.  41
11COUGO, Thais (Org.). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007. p. 95-96
12COUGO, Thais (Org.). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007. p. 96-97

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