Triste Pampulha

Data 22/01/2013 11:10:00 | Tóopico: Depoimentos

Sou morador da região da Pampulha, mas, quando criança, morei próximo ao Córrego do Pastinho, onde brincava em suas límpidas águas. Também pesquei bagres no Córrego Sarandi e no Ressaca assim como acarás, piabas e traíras na Lagoa da Pampulha. É também às  margens da Lagoa que faço minhas caminhadas aos finais de semana e, enquanto caminho observo o quanto estamos destruindo aquele espaço de beleza e de lazer. Esgotos chegam de várias fontes, sendo o maior volume dos córregos da Ressaca e do Sarandi.  Ora, como pode  isso acontecer se nós pagamos à empresa de saneamento para coletar, tratar e dar destino correto aos esgotos das nossas casas? Faz algum sentido a empresa que tem por missão cuidar do saneamento básico, ser bem remunerada por nós para isso, receber ainda recursos públicos, para dar destino correto aos esgotos, despejá-los in natura na Lagoa da Pampulha?
 
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 Destaque para os serviços de: Esgoto: Coleta, Tratamento e Controle de Efluentes. Valor cobrado mensalmente de um dos moradores da Pampulha. Não há tratamento algum, o esgoto é jogado “in natura” dentro do Cartão Postal da cidade.

Há poucos anos atrás, a tal empresa anunciou a construção de uma estação de tratamento de esgotos na Lagoa da Pampulha e, se me lembro bem, as propagandas e as grandiosas placas no local, informavam que tratariam os esgotos dos córregos Ressaca e Sarandi. Confesso a minha ingenuidade ao acreditar que finalmente haveria uma solução para o problema dos esgotos na Lagoa. Ora, por semanas acompanhei de perto a construção da estação e, aos poucos fui percebendo que por seu porte ela seria incapaz de processar o volume de esgoto que afluía daqueles dois córregos, mesmo durante o período de seca.
 
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Entrada dos Córregos Sarandi e Ressaca 100% poluídos na Lagoa da Pampulha
 Foto: Osias Ribeiro Neves
 
A estação está pronta e mais parece uma maquete financiada por nós. Não sei o volume de recursos que a tal obra consumiu, mas sei que ela não funciona as 24 horas do dia e, quando está em operação, processa muito pouco do esgôto que chega dos córregos, pois a maior parte passa por fora dela e cai diretamente na Lagoa. E assim o cartão postal de Belo Horizonte vai se tornando inviável. Há muito não se pode nadar em suas águas que são impróprias, não se pode praticar a pescaria, apesar de muitos desavisados ainda o fazerem e, atualmente, está ficando difícil até mesmo circular por suas margens pelo mau cheiro que dela exala, além da poluição do ar. 

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Entrada da ETE Pampulha que quando em funcionamento, não tem capacidade para tratar nem 10% do esgoto que entra na Lagoa
 Foto: Osias Ribeiro Neves
 
Além da poluição da Lagoa da Pampulha, promovida irresponsavelmente pela empresa de saneamento com a anuência de todas as esferas do poder público, vê-se ainda chegar por seus ex-córregos muito lixo, como pneus, sofás, latas e milhares de garrafas Pet. Deixando de lado o descuido com o lixo, essas embalagens deveriam ser recolhidas pelas empresas que as colocam no mercado e, isso seria fácil de resolver se as autoridades quisessem, pois todas elas carregam as marcas dos seus fabricantes.
 
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  Foto: OsiasRibeiro Neves
 
Nos últimos 30 anos, temos assistido o descaso e a picaretagem de nossos políticos com relação à Lagoa da Pampulha e as questões de saneamento básico de maneira geral e, nesse caso, nenhum deles escapa da irresponsabilidade e do descompromisso conosco, cidadãos que pagam impostos e, que pagam também, repito, compulsoriamente, à empresa de saneamento para fazer o tratamento do esgoto coletado em nossas casas e dar destino correto a ele. Foram vários os prefeitos que passaram por aqui nos últimos anos, e nesse tempo, nenhum se empenhou para a solução do problema Pampulha. A cada nova administração esse assunto vem à tona, serve de bandeira política e, imediatamente após a eleição, é esquecido. Verbas vultosas foram e continuam a ser gastas com arremedos de soluções às nossas custas.

Agora, com a copa do mundo, estão com a conversa de trazer tecnologia do Canadá. Que me desculpem os especialistas, mas a solução é de uma simplicidade franciscana. Basta evitar que os esgotos caiam na lagoa, desviá-lo, fazê-lo passar por fora dela, ou melhor, tratá-los nos córregos antes que eles alcancem a Lagoa. Para ser mais preciso e mais criterioso, a obrigação da empresa de saneamento é tratar todo o esgoto antes que ele alcance a Lagoa e recuperar os córregos, afinal ela já os utilizou em demasia para crescer o seu faturamento e o seu lucro nos últimos 30 anos. Que tal ela devolver ao ambiente e aos cidadãos o que ela tem por missão? Que tal cuidar adequadamente da Lagoa da Pampulha e devolver ao cidadão e à cidade de Belo Horizonte o seu cartão postal sem esgoto e desassoriado?

Osias Ribeiro Neves





Este artigo veio de Museu Pampulha
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