A transição para o futuro

Data 23/08/2012 13:38:34 | Tóopico: Crônicas

Alguns exemplos clássicos como 'eu era feliz e não sabia' e 'tempo bom, que não volta mais' nos leva à reflexão. Apesar de muita coisa nos escapar ao controle, como a questão do tempo, temos sim que assumir grande parcela de culpa pelo andar da carruagem, pelo estado de disparidade instalado com o consentimento muitas vezes involuntário, e outras tantas bem conscientes.
Em verdade, a ânsia por resultados imediatos nos induz a decidirmos sobre fatores de suma importância sem levarmos em conta as conseqüências danosas a médio e a longo prazo, o que, fatalmente, rende muitas situações embaraçosas, e algumas até irreversíveis. Costumamos dizer que o tempo, na nossa infância, parecia mais longo e que parece acelerado, atualmente. Não é verdade. De fato, estamos atropelando o tempo, transformando-o de aliado para inimigo.
À medida em que mergulhamos, aleatórios, nesse processo, vamos nos distanciando mais e mais uns dos outros e até de nós próprios. Creio ser este o princípio da falência humana. Ignorar o conforto relativo, resultante dessas atitudes seria como mentirmos para nós mesmos. Porém, isso deve servir de mola a nos impelir ao irracional moderno. Enquanto os palácios ficam mais suntuosos, os seres, dentro e em torno deles, ficam mais miseráveis. São, agora, em 2005, 57 anos vendo e ouvindo as evoluções, acompanhando e adaptando-me aos fatos novos. Grande parte de observação mais próxima aconteceu comigo dentro do nosso Jardim Montanhês. Aqui no bairro, como em outros bairros, cidades, estados e países emergentes, houve profundas mudanças e, junto, claro, também no comportamento. Já não conhecemos a maior parte dos novos moradores; quase não mais existe o menor pedaço de terra natural, onde poderíamos descarregar nossa eletricidade estática, plantarmos a mais simples horta caseira ou praticar – os nossos filhos e outras crianças – as brincadeiras tão comuns e saudáveis da nossa infância. O sossego, os sons dos pássaros no alvorecer, e dos batráquios, nas noites, já não existem. Junto do asfalto do progresso, que nos trouxe a rede elétrica eficiente, redes de água e esgoto e várias opções de transporte coletivo veio também a violência e o agito descomunal da modernidade. O cheiro gostoso de mato molhado, de flores silvestres, de frutos caseiros, a área verde e o ar puro já se foram... Fazem parte da saudade de outros tempos.
De fato, no mundo e as pessoas vêm se robotizando, num processo lento, porém contínuo da extinção do lado humano, do tempo, da amizade e até do amor.

Francisco Lutkenhaus 



Este artigo veio de Museu Jardim Montanhês
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