Nas visitas às obras de edificação da capital, Juscelino Kubitschek podia ser visto acompanhado do violinista Dilermando Reis, que, além de geralmente integrar a comitiva da presidência, era responsável por alegrar as noites no “Catetinho”. Com a transferência da capital, o Rio de Janeiro não exportou apenas o debate político para a região Centro-Oeste do país, mas, também, a harmonia instrumental do chorinho carioca. Nos primeiros anos vividos no Planalto Central, as rodas de choro eram formadas nas casas dos funcionários públicos vindos do Rio.   “Com problemas de coração, Jacob do Bandolim  passou várias temporadas na cidade, entre consultas a seu médico particular, também bandolinista, e saraus memoráveis na casa da pianista Neusa França. Para esses eventos eram convidados dublês de músicos e funcionários públicos transferidos do Rio de Janeiro, que assim podiam tirar seus instrumentos da caixa e matar saudades das rodas de choro. Estava plantada, sob a inspiração do bandolim Jacob, a semente do futuro Clube do Choro de Brasília. A partir daí o Clube passou a existir informalmente em saraus na casa da flautista Odete Ernest Dias, com a entusiasmada participação de instrumentistas, professores de música e aficionados do gênero.”     
 Já na década de 70, os encontros repletos de virtuosidade cresceram,  passando a integrar apresentações públicas. Foi o encanto proporcionado  em uma dessas apresentações, que levou o então governador do Distrito  Federal, Elmo Serejo Farias, a ceder as dependências do antigo vestiário  do Centro de Convenções Ulysses Guimarães aos amantes do choro. A  conquista do espaço fez com que surgisse a ideia de se criar o Clube do  Choro de Brasília, fundado em 9 de setembro de 1977.   Entretanto, aos  poucos, os chorões  da capital viram o Clube perder o encantamento de  outrora. Os casos de furto do equipamento de som, somados aos problemas  estruturais do espaço, entre outros, fizeram com que o público e os  músicos abandonassem as apresentações. Essa situação levou o Clube a ser  ameaçado de despejo. Assim, em decorrência da queda de público e falta  de recursos financeiros, na década de 90 o Clube teve de fechar as  portas. Mas o período negativo não tardaria a findar.   Em 1993, o  jornalista e músico Henrique Lima Santos Filho, conhecido como Reco do  Bandolim - presidente e um dos fundadores do Clube de Choro-, se  mobilizou para regularizar a sede junto a Companhia Imobiliária de  Brasília (Terracap), objetivo conquistado em 1995. Reunindo esforços com  o governo local e entidades ligadas à cena cultural da região, a tarefa  seguinte foi promover a restauração do espaço físico, que pôde ser  realizada a partir do projeto do arquiteto Fernando Andrade, autorizado  por Oscar Niemeyer e executado pela Novacap (Companhia Urbanizadora da  Nova Capital).  
  Com a reforma dos equipamentos e das dependências do  espaço, músicos como o violinista Raphael Rabello e o bandolinista  Armando Macedo se apresentaram na sala Villa-Lobos, sem cobrar cachê, na  intenção de contribuir com o restabelecimento do Clube. Deste modo, ao  perceber a necessidade de buscar recursos para manter o espaço em  atividade, Reco passou a se dedicar à conquista de patrocínios, fato que  colaborou para a consolidação do Clube do Choro de Brasília.
  Em  1997, a presidência do Clube aproveitou o espírito de reativação do  choro, para conquistar o apoio do Ministério da Cultura, na realização  de um projeto em homenagem ao centenário do nascimento de Pixinguinha.  A  proposta foi aprovada pela Lei do Mecenato, obtendo patrocínio do Banco  do Brasil, da ECT e da Petrobras. Os recursos obtidos possibilitaram a  contratação de músicos e a realização de apresentações semanais, o que  contribuiu para o retorno do público ao Clube do Choro de Brasília.
 Foi  nesse ambiente de reconstrução, que o Clube passou a manter uma  discoteca e videoteca de música instrumental brasileira e a veicular as  apresentações de choro na TV Senado, TV Câmara e TVE.  
 Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello   Como  reflexo do período de estabilização do Clube, em 29 de abril de 1998,  Reco do Bandolim conseguiu realizar o sonho de estabelecer a primeira  instituição educacional dedicada ao ensino de choro do país. A Escola  Brasileira de Choro Raphael Rabello - nome em homenagem ao violinista  carioca, um dos patronos do Clube -, foi idealizada nos moldes das  tradicionais escolas de jazz norte-americanas. Com a função de  preservar, renovar e difundir o choro, a proposta inicial do projeto foi  elaborada por Reco em parceria com os jornalistas Carlos Henrique  Santos e Ruy Fabiano. A concepção pedagógica ficou sob a  responsabilidade do músico Maurício Carrilho.   Nos primeiros anos de  atuação, a escola oferecia cursos de bandolim, cavaquinho, pandeiro,  saxofone e violão de seis a sete cordas. Mais tarde foram introduzidos  os cursos de flauta e clarinete. A escola abriu as portas com 90 vagas  disponíveis e 200 candidatos na lista de espera.   Apesar da conquista, a  escola não possuía estrutura adequada para realização das aulas, que  eram lecionadas em barracões de madeira deixados pelos operários que  haviam trabalhado na reforma do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.  
  Embora  houvesse desafios a serem vencidos a escola representava uma grande  vitória. Nas palavras de Reco do Bandolim: "a Escola revela talentos, e o  Clube é o lugar onde eles entram em contato com o público, tocando ao  lado de grandes nomes e de chorões tradicionais. Cumprimos assim o papel  de formar e ampliar platéias, criando um círculo virtuoso que vai  garantir a renovação e a perenidade do Choro”  .
 Deste modo, aos  poucos, o Clube do Choro se fortaleceu, conquistando cada vez mais  espaço e público. Foi tombado pelo Governo do Distrito Federal como  Patrimônio Imaterial de Brasília, em 2008, e, no ano seguinte, recebeu  da Presidência da República, a comenda da Ordem ao Mérito Cultural.    Espaço Cultural do Choro    Em  10 de novembro de 2011, foi inaugurado o Espaço Cultural do Choro, com  2.150m² de área construída. O prédio projetado por Oscar Niemeyer  localiza-se no setor de Divulgação Cultural, ao lado da antiga sede do  Clube do Choro. O Espaço abriga uma sala de concertos, de 560m²; o  Café-Concerto e a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, com oito  salas de aula.   No Espaço Cultural ainda há duas salas reservadas  para o Centro de Referência e Memória do Choro, onde serão reunidos e  disponibilizados recortes documentais sobre a história do choro. O  acervo, ainda em formação, será mantido sob a supervisão da Universidade  de Brasília, e composto por cópias digitalizadas das produções musicais  disponíveis na Biblioteca Nacional, no Museu da Imagem e do Som e do  Arquivo Nacional, entre outros materiais cedidos por instituições de  cultura. 
 Vultos da música popular brasileira  No desejo de  valorizar reconhecidos nomes da Música Popular Brasileira (MPB), desde  2008, o Clube do Choro elabora um projeto anual, em que são programadas  uma série de apresentações especiais em homenagem a um músico. As  apresentações contam com a participação de múltiplos artistas, que  interpretam e também renovam as composições do homenageado.
   Em  lembrança ao cinquentenário da Bossa Nova, Tom Jobim foi homenageado no  ano de 2008, com o projeto “Tom Jobim – Maestro brasileiro”. Em 2009,  foi a vez de Dorival Caymmi, com o projeto “Dorival para sempre Caymmi”.  No ano seguinte, aproveitando as comemorações dos 50 anos de Brasília, o  Clube lançou o projeto “Brasília 50 anos – Capital do Choro”, que teve  como objetivo abrir espaço para os músicos revelados na capital e levar à  cidade instrumentistas reconhecidos em âmbito nacional. Os espetáculos  foram idealizados na intenção de traçar “um painel retrospectivo e  prospectivo do Choro, capaz de contar a sua história, reverenciando  grandes nomes do passado, e ao mesmo tempo abrir novas perspectivas para  o futuro de um gênero musical indestrutível, capaz de se reinventar  permanentemente”.  
   Assim, em 2011, a homenagem foi direcionada ao Clube  do Choro de Brasília. Retornando às personalidades da MPB, o projeto  “Meu caro Amigo Chico Buarque”, coloca, em 2012, a produção de Chico em  evidência, para ser interpretada e renovada pelos mais diversos músicos  do país. 
 
     
 
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